Eu fiz tudo por você. Ou tudo que você não viu ou não reconheceu. Ou quase tudo dentro daquele limite que separa uma pessoa que quer de uma pessoa que pode. A sua intolerância azedou a minha falta de bom senso. O seu silêncio atirou contra os meus gritos. E a sua vida, essa que te ergue a um pedestal e que te proporciona o sonho de liberdade, debochou da minha e me nocauteou. O absoluto que havia em você e que em mim era intacto, ficou espalhado como um pó - uma sujeirinha maldita e impregnada na alma. Então o tempo, esse gigante, te desfez. O tempo, esse senhor poderoso, agiu por nós dois. Você seguiu aquele lado triste para onde vão as pessoas e as coisas que de inteiros, nos transformam tão-somente em metade e escuridão. E eu segui a incógnita da esperança, meu novo lar. Mais nada. Nada pelos teus olhos. Passo algum. Minuto algum dedicado a uma contemplação fúnebre do passado ou pedacinhos de euforia. O passado é tão bobo quanto essa sua alegria tridimensional longe de mim. O passado é tão bobo quanto aquilo que você teoriza sobre o amor e te cegou para o que você jamais conseguiu captar aqui dentro (e a única verdade ). Os poucos sorrisos vão exatamente para onde vai tudo aquilo que nos torna comum e mortal. Os poucos sorrisos, estarão estampados no futuro, quando finalmente reconheceremos a semente de bobagem que havia entre o meu calor e a tua geleira. Entre a minha loucura e a sua linha reta. Tudo absolutamente em vão! Mais nada por você. Nada que me tire o sono ou me enloqueça. Nada que me encante ou me revele. O que me espera é uma paisagem para onde suas mãos jamais iriam me conduzir. Um lugar onde tudo pulsa. E livre do caos, dois se permitem sem medo, ser apenas um.
(Fabiana Borges)