domingo, 31 de maio de 2009

Pela primeira vez...


A vida dela andou nesse um ano e pouco que eles ficaram sem se falar.

Ela mudou. Piorou em algumas coisas, melhorou em outras, mas mudou.

Ela, que não gostava de country, agora compra ingresso com um mês de antecedência e coleciona cds. Ela trocou a cama por uma melhor, o sofá da sala por um colorido lindo, mudou os móveis de lugar depois do Natal, fez algumas telas, colocou cores em todos os quadros brancos.

Trocou o carro por outro que anda muito mais.

Mudou o tom do cabelo mais uma vez, o estilo das roupas. Fez vários novos amigos.
Para ele, parece que o tempo não passou.

Aliás muita coisa passou.

Ele acha que pode chamá-la pelos apelidos que ele costumava inventar pra ela, acha que pode pegar nela onde bem entender e que pode arrumar o cabelo dela pra trás da orelha.
Não. Eles ainda têm algum assunto, mas ela já não faz mais piadinhas pra implicar com a vida de solteiro dele ou a vida que ele inventou.

Ela não é mais dissimulada quando ele pergunta se ela está com alguém.

Ela está solteira e não precisa mais fingir que está de rolo com alguém pra fazer ciúme nele.

Não faz mais sentido. Nada mais faz sentido.

As brincadeiras, o abraço, o toque do corpo.

Acabou a emoção, acabou o brilho no sorriso, acabou o sorriso nos olhos. Coisas do tempo.

Mas o coração dela ainda treme quando ele aparece assim derrepente.
Ele partiu sem nenhuma dor. Ela fechou a porta e sua vida continuou de onde estava.

Pela primeira vez, ela fechava aquela porta sem sentar na escada e chorar por ele ter ido embora pra sempre.

Pela primeira vez, ele saiu sem que ela o observasse partir com o coração apertado.

Pela primeira vez, ele foi embora sem deixar uma gotinha de esperança de que ela pudesse tê-lo de volta na vida dela.
Pela primeira vez, ele partiu sem que eles tivessem trocado mais do que um abraço apertado. Pela primeira vez, ele se foi sem que eles tivessem remexido o passado ou chorado porque alguma coisa não deu certo entre eles.

Pela primeira vez, ele foi embora de verdade. Pela última vez, ele foi embora.
Ele foi embora, ela ficou, mas ela não está mais aqui.

E mesmo assim eles continuam sem saber o que acabou.

A unica certeza é que acabou sim.

Pelo menos por enquanto.


(Luciane Pimentel)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Dor de amor!


As pessoas se compadecem e legitimam qualquer tipo de sofrimento - exceto sofrer por amor.

Alguém morreu, perdeu o emprego, ficou doente, está atolado em dívidas - Pode!

Sofrer por amor? De jeito nenhum!

Por isso que é tão difícil enfrentar de peito aberto e admitir. A sociedade incentiva a fuga.

Os amigos te dizem pra cair balada - imediatamente uma substituição - jogar tudo fora, não lamentar, não chorar, não pensar na morte (que absurdo!?? ), não ter recaídas. “Faz uma viagem que passa!”..não é assim? Sabe o que eu acho? Só passa assim, quando é fogo de palha!

Muita gente que corrobora com essas teorias todas conhecem apenas isso, a paixonite, o fogo de palha! E esse é o tipo de sentimento que cura fácil sim, com qualquer esquema, muitos amigos, uma tática e jogando bem!

Mas você conhece alguém que já sofreu por amor (de verdade)?

Pensa que tem luto só quem já perdeu alguém pro outro plano? O sofrimento que vem de um rompimento amoroso e de amores não correspondidos, é na maioria das vezes, silencioso.

Porque a gente se expõe até a raiz, a gente revela um tipo de fraqueza que ninguém mais conhece - só o fulano! E mais que isso, a gente alcança o ridículo na plenitude.

Como conversar com o espelho, sabe? As pessoas não podem te ver nua e crua ou chorando como uma menininha que perdeu o doce preferido. É vergonhoso, é pequeno.

Vão dizer que você é forte, que é capaz de superar tudo e quem dirá, alguém!

Não entende dor de amor quem não sofreu ou escavou poços pra matar essa sede que não passa.

Minimizar um sofrimento, é não fazer parte de um universo onde os problemas mais difíceis a serem resolvidos são aqueles entre "você e você"- desarmada- fraca- vulnerável- à flor da pele.

Quem dá a cara pra bater e assume suas noites de tristeza e seus medos? O “nunca mais alguém”, é assustador - angustiante, de dentro pra fora - vai pelo corpo -e adoece.

O “nunca mais alguém” é um pesadelo revelando uma solidão que não tem nome porque um dia, você sequer imaginou que ela existisse.

Caio Fernando Abreu disse em sábias palavras: “Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica, psicanálise, drogas, acupuntura, suicídio, ioga, dança, natação, cooper, astrologia, patins, marxismo, candomblé, boate gay, ecologia, sobrou esse nó no peito, agora faço o quê?”.

É assim que dói o amor que não será- e o sentimento que não conhecerá a glória.

É a tradução do “melhor em nós desperdiçado”.

Nada passa, nada substitui e nada faz de conta.

Via de regra não morreremos de amor e a vida não pára pra sempre.

Há de se seguir a correnteza porque como em tudo, existe a nossa imensa força e o encontro inevitável com outras histórias. Só não se faça de Rei imune- o amor pode ser a maior dor que alguém já teve pra contar - ( e nunca teve coragem ).


(Fabiana Borges)

Leva que o homem é seu!!


A idéia seria a seguinte : "Se você continuar gostando do mesmo cara por mais de dois anos ( mesmo comendo o pão que o diabo amassou ), leva que ele é teu! Porque ninguém vai gostar dele mais do que você".

Uma espécie de prêmio divino - isso que a gente chama "ganhar por méritos"!

Mas na vida real não há lógica alguma.

Definitivamente, mérito é algo que passa longe desse tipo de história de amor.

É certo que ninguém vai gostar dele como você - se submeter, chutar o pau da barraca, engolir a seco todas as grosserias do universo ou reinventar uma criatura que sequer existe! Essa façanha é exclusivamente sua.

O pão de cada um dos seus dias e aquilo que corre nas suas veias não servem como pontuação na hora que ele resolve escolher.

O inevitável é uma chama prestes a acender - e tão certo como a simples soma de dois mais dois, alguém sem mérito, lenço ou documento, e com amor de menos (que importa?), leva de bandeja o que você tanto quis.

Qualquer criatura que você possa chamar de “umazinha qualquer” surge como uma mágica.

Na fila do pão sabe? Coisa comum, de gente comum?

E de que adianta o que você já viveu ou esperar como você esperou? NADA.

É assim que as coisas acontecem… Ele não precisa da sua memória afiada, não está interessado no seu amor de novela ou no maior tesão do mundo. Por mérito a gente não leva amor algum.

Ele não precisa de alguém que o admire enquanto dorme, que saiba decorado cada expressão do seu rosto ou que encontre beleza num detalhe que mais ninguém vê. Isso é coisa de cinema, está nos livros, histórias que a gente ouve contar - embelezamento puro.

As coisas simples estão com aquela que atravessa o seu caminho. Objetiva, sem rodeios ou teorias.

As coisas que realmente importam estão numa relação pronta e que vem praticamente embalada pra presente. Estrada sinuosa, drama? É enfeite, não vale a pena, não é a aposta de ninguém e não é a dele!

Vai ficar com ele quem menos entende dele, quem não se ocupa com detalhes - quem não pensa muito - quem não exige, quem não enfeita a relação e mais ainda, quem não perde tempo teorizando a respeito da relação.

Leva o cara quem não apressa o passo, quem conta até dez, quem engole seco, quem não lamenta, e quem aceita pouco não porque se submete, mas porque consegue ser feliz assim, com pouco mesmo, de um jeito que gente como eu, não entende nem quer.

Leva o dito cujo quem se encaixa nas teorias em que ele acredita, quem preenche vazios em segundos, quem se esconde um pouco , quem não tem demais pra dar ou desejar.

Não existe o começo da fila e qualquer uma pode ser a primeira! O injusto se torna justo e não adianta bater pé, xingar aos céus.

Nada era seu e onde não existe um pacto de alma, não existe acordo algum.

Ela virá. Ela será seu espelho ao contrário. Ela não vai matar um leão por dia, nem deitar e acordar com ele no pensamento. Ela não entenderá a melancolia de um entardecer sem ele.

Ela não vai precisar ficar lembrando a ele que ela existe - simplesmente porque encontrou nele, seu lugar de dentro pra fora. É cruel? Claro que é.

Como correr em círculos, suar a camisa a troco de nada.

É muito sentimento em vão e a sensação de tê-los arremessado sempre em direção ao nada.

Mas o que se há de fazer? Porque na prática, o que eu vejo é que depois de anos gostando de alguém e sofrendo - quando menos se espera, vem outra e leva tudo - por quase nada.

Mas é o que é! Sorte ou destino deles e azar o nosso! Ou quem sabe, sorte a nossa também? ( e isso é outra história… )


(Fabiana Borges)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Remember

Recorda-te de mim quando eu embora
For para o chão silente e desolado;
Quando não te tiver mais ao meu lado
E sombra vã chorar por quem me chora.
Quando não mais puderes, hora a hora,
Falar-me no futuro que hás sonhado,
Ah de mim te recorda e do passado,
Delícia do presente por agora.
No entanto, se agum dia me olvires

E depois te lembrares novamente,
Não chores: que se em meio aos meus pesares
Um resto houver do afeto que em mim viste,
— Melhor é me esqueceres, mas contente,
Que me lembrares e ficares triste.

(Manuel Bandeira)

O maior elogio que eu poderia fazer a uma pessoa era dizer assim:
gosto de você além da minha imaginação,
não porque aprendi a gostar,
mas porque por mais que eu sonhe,
você é ainda melhor que o sonho.
Você é além da minha capacidade em te imaginar.
E eu jamais te diria isso.

sábado, 9 de maio de 2009

Castelo de areia!!!


Ultimamente meu castelo é de areia

O meu cavalo pigarreia versos tortos e não sabe trotar

As minhas guerras são internas meus soldados não tem pernas

Minha lança se eu preciso nunca está no seu devido lugar

Desprezo o papo do sujeito que disse pra mim bem feito

No final não tem mais jeito sonho vai acabar

Tenho por certo o que deixei

Tudo em aberto não fechei

A minha ponte que só cai

Se aonde se aproximar, se aonde se aproximar

Se a fera estúpida me assalta eu sei que é lúdica é o que falta

E leva quase, quase muito, muito tempo para se acostumar

Criei um monstro que me ataca e fere a ferro e deixa marca

E leva a ponte neste vício para o fundo, fundo do mar

Desprezo o papo do sujeito que disse pra mim bem feito

No final não tem mais jeito sonho vai acabar

Tenho por certo o que deixei

Tudo em aberto não fechei

A minha ponte que só cai

Se aonde se aproximar, se aonde se aproximar.


(Eu e a banda)