segunda-feira, 27 de abril de 2015

Um texto fofinho do Gregório :)

Palavras, percebemos, são pessoas. Algumas são sozinhas: Abracadabra. Eureca. Bingo. Outras são promíscuas (embora prefiram a palavra "gregária"): estão sempre cercadas de muitas outras: Que. De. Por.

Algumas palavras são casadas. A palavra caudaloso por exemplo, tem união estável com a palavra rio. Você dificilmente vai encontrar caudaloso andando com outra pessoa. O mesmo vale para frondosa, que está sempre com a árvore. Perdidamente, coitado, é um adverbio que só adverbia o adjetivo apaixonado. Nada é ledo a não ser o engano, assim como nada é crasso a não ser o erro. Ensejo é uma palavra que só serve para ser aproveitada. Algumas palavras estão numa situação pior, como calculista, que vive em constante ménage, sempre acompanhada de assassino, frio e e.

Algumas palavras dependem de outras, embora não sejam grudadas por um hífen - quando tem hífen elas não são casadas, são siamesas. Casamento acontece quando se está junto por algum mistério. Alguns dirão que é amor, outros dirão que é afinidade, carência, preguiça e outros sentimentos menos nobres ( apalavra engano, por exemplo, só está com ledo por pena. Sabe que ledo, essa palavra moribunda, não iria encontrar mais nada a esta altura do campeonato).

Esse é o problema do casamento entre palavras, que por acaso é o mesmo do casamento entre pessoas. Tem sempre uma palavra que ama mais. A palavra árvore anda com várias palavras além de frondosa. O casamento é aberto, mas para um lado só. A palavra rio sai com várias outras palavras na calada da noite: grande, comprido, branco, vermelho - e caudaloso fica lá, sozinho, em casa, esperando o rio chegar, comida esfriando no prato.

Um dia, caudaloso cansou de ser maltratado e resolveu sair com outras palavras. Esbarrou com o abraço, que por sua vez, estava farto de sair com grande, essa palavra tão gasta. O abraço caudaloso deu tão certo que ficaram perdidamente inseparáveis. Foi em Manoel de Barros. Talvez pra isso sirva a poesia, pra desfazer ledos enganos em prol de encontros mais frondosos.

(Gregório Duvivier)

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O dom de se acalmar

Já senti ventanias tão fortes que tive vontade de segurar o teto para ele não voar, e poucas horas depois tudo terminou em brisa. Já ouvi chuvas tão agressivas que dava medo em abrir a janela, mas pouco depois se resumiam em gotinhas tímidas grudadas no vidro. É passageiro, o susto é passageiro. A agonia nos abraça tão apertado que dá vontade de sair por aí salvando o mundo, mas ao abrir a porta já não tem mais perigo nenhum. Tudo depende da importância que você impõe.

Se está ventando muito, não precisa se agarrar ao primeiro cobertor que for ver na frente, aproveite o impulso e jogue alguns sentimentos antigos para serem levados pela direção do vento, junto com o teto se for preciso. Dê tchauzinho e um grande aceno, pois já não te serve mais. Aquele teto já estava aí há tanto tempo mesmo. Vai ver você agora quer morar debaixo das estrelas, acampando em meio ao nada e tendo apenas o balançar das folhas como paredes.

Até eu que sou tarja preta aprendi a me acalmar e a respirar ao invés de suspirar. Até eu que sou um caos sentimental aprendi a chover menos em copos d’água. Eu que vivi sempre estufada, sem espaço pra nada de tanto estar cheia de tudo, aprendi a abrir a válvula de escape e esvaziar um pouco. Que mal tem? Passar a vida com o coração acelerado pelos motivos errados é um desperdício de hormônios. Acelera quando algo sai errado, acelera quando não te falam o que queria ouvir, acelera quando alguém vai embora, acelera quando não entendem o que você sente.

Ah, pra quê se esforçar tanto, afinal? Se virou rotina se esforçar ao máximo para acalmar os batimentos, está mais que na hora de tomar uma dose do calmante mais forte já inventado. O santo soberano de qualquer medicamento à venda em farmácia, que não vem com bula, mas é tão fácil de usar que nem é preciso instruções:

Dê um tempo, tome um tempo, não culpe o tempo, sinta o tempo e recupere seu tempo

O que não pode acontecer é ter tanto medo da vida, e se esconder atrás de tantas chaves. Pois, tudo passa. Eu já me enchi com tantos cadeados, mas poucos segundos depois já não lembrava mais o que estava guardando. Já corri tanto da solidão que quando percebi estava de mãos dadas com ela. Então, parei de correr. Joguei as fechaduras. Abri as janelas. E sorri com o vento. Se funciona? Dia sim, dia não. Mas passa, o dia bom passa, e o ruim também. A chuva é fase, por que eu não seria?

O incerto também tem seu encanto.



(Entre Parenteses - O principal fica sempre protegido. Entre parênteses ou dentro do peito. Blog)

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Ser mulher é foda!

Eu recebo muitas mensagens de homens dizendo:

“Mulher só pensa em roupa, dinheiro e no cara perfeito”.

Então, eu respondo:

“E homem só pensa em carro, bunda e peito”.

Que homens e mulheres pensam diferentes

isso é evidente.

O que eu não consigo entender

é porque a forma do homem pensar é idolatrada

e a da mulher julgada?

Por que o homem pode tudo

e a mulher nada?

Ser mulher neste mundo deve ser foda.

Eu nem estou dizendo isso porque a sociedade exige todos os dias

que você esteja sempre cheirosa, linda e gostosa.

Nem porque você tem que ir trabalhar de tpm, sangrar 3 dias  5 dias,

pintar as unhas, a raiz,

aplicar Blush e iluminador pra afinar o nariz

e no final do dia,

tem que sorrir pra o colega da mesa ao lado

que não faz metade do seu trabalho

mas ganha o dobro do seu salário.

Ser mulher nesse mundo deve ser foda.

Eu nem estou dizendo isso porque você pode estudar física nuclear,

ganhar o prêmio nobel da paz, falar inglês, alemão e mandarim.

No natal, se você chegar na festa sozinha,

a sua vó do interior sempre vai olhar com cara feia e perguntar:

“Minha filha, e o namorado? Não vai arrumar?”.

Nem porque o seu pai repete todos os dias:

“Mulher tem que se dá o respeito.

Não pode voltar tarde nem sair de mini-saia ou sozinha.”

Ser mulher nesse mundo deve ser foda.

Eu nem estou dizendo isso

porque o seu namorado não cansa de dizer:

“Mulher não pode beber”.

E quando você pergunta o por que,

ele tem a coragem de responder:

“Porque mulher bêbada não sabe se comportar

e isso é vulgar”.

O mesmo namorado que todos os dias

olha para a bunda de alguma menina e diz:

“Que delícia”.

O babaca machista

sempre vai ser o disfarçado de moralista.

Esse tipo de homem

vai ser assim até o último dia da sua vida.

Enquanto o mundo continuar desse jeito,

sem respeito,

sem entender que nós somos todos os mesmos.

Enquanto o mundo não mudar,

só existe uma coisa que eu e você podemos fazer.

Lutar.

Então, aprenda a se amar em primeiro lugar.

Essas lágrimas no seu rosto são reais

e o que está dentro do seu coração

somente você pode cuidar.

Ser mulher nesse mundo deve ser foda.

E o mais incrível de toda essa história,

é que no final você ainda continua cheirosa, linda e corajosa.

E pronta para sorrir novamente e viver.

Porque essa é a beleza do amor

que ninguém pode tirá-lo de você.



(The brocode)