quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Quem não sonha viver um amor assim? ❤



Há alguns dias meu pai faleceu.

Hoje, um amigo advogado disse:

“Ique, estou a disposição para fazer o inventário de graça para vocês”.

Eu respondi:

“Muito obrigado.

Mas meu pai não deixou nenhum bem material”.

Ele disse:

“Sério? Nada de valor? Seu pai fazia o que?”

Meu pai era engenheiro.

Trabalhou mais de 25 anos na Usiminas.

Viajou para mais de 20 países a trabalho.

Em todas as viagens,

ele enviava cartas para minha mãe com fotos dos lugares e,

no final de todas as cartas,

ele terminava dizendo:

“Estou vendo coisas lindas

mas nenhuma delas é mais bonita do que você.

Saudade.”

E no verso da foto que ele enviava,

tinha escrito:

“Eu amo”.

Minha mãe olhava para a foto, sorria e dizia:

“Você”.

Era um código que eles tinham.

Quando um dizia: “Eu amo”

o outro respondia “Você”.

Em 1988, meu pai foi morar no Japão.

Ele ganhou muito dinheiro para ficar quatro meses lá.

Em vez de guardar

ou colocar em algum fundo de investimento,

ele resolveu usar da seguinte forma.

Enviou mais de 38 cartas para minha mãe

por um tipo de sedex do Japão que era carissimo na época.

Ele ligava para minha mãe todos os dias

e ficavam horas no telefone.

Imagina o custo de uma ligação do Japão para o Brasil em 1988.

Ele também gastava dinheiro com o envio e os pedidos das cartas

que eu e minha mãe enviávamos pra ele.

Na minha última carta o pedido era um relógio,

um carrinho de controle remoto

e um avião eletrônico.

Ah, e pra ele tomar cuidado com as moças.

O dinheiro que sobrou das outras viagens ou o 13 salário,

meu pai usou para levar minha mãe em todos os países que ele viajou.

Ele tirava uma foto da minha mãe

no mesmo lugar que ele tinha ido.

No verso da foto ele escrevia:

“Você”.

Hoje, 47 anos depois, minha mãe tem guardada todas essas fotos.

A do meu pai escrito EU AMO e a dela escrito VOCÊ.

Ao longo da vida,

meu pai fez essas coisas.

Enviava cartas, viajava, amava

telefonemas que começavam a noite

e terminavam de madrugada.

Talvez, neste mundo de mensagens visualizadas

e não respondidas.

Onde as coisas não são ditas.

Onde você não precisa de ninguém ao lado.

Onde os narizes estão empinados

e os corações pesados.

Talvez, nesse mundo,

todas essas coisas que meu pai fazia não signifiquem nada.

Tudo bem.

Cada um faz o que acredita.

Eu vou seguir a moda antiga.

Cartas enviadas, respondidas

e guardadas para o resto da vida.

Mas, meu velho, respondendo sua pergunta.

Em vida, meu pai amou as pessoas em vez das coisas.

E agora que ele partiu,

em vez de chorar,

eu vou agradecer por todo o tempo que eu tive ao lado dele

aprendendo, vivendo

e por ele ter deixado a única coisa que realmente tem valor:

O amor.




(the brocode)