terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

NADA


Então foi assim: quando me lembrei, havia esquecido de você.

Percebi que o tudo havia se tornado nada, um nada enorme, talvez o maior nada que eu tenha sentido em toda minha vida.

Percebi a sua ausência de mim quando as músicas se tornaram muito mais felizes, quando, por diversas vezes, tentei escrever pensando em você e tudo o que eu conseguia fazer era “deixar pra depois” e esquecer.

E acordar feliz porque sequer me lembrava do antes.
Me pergunto em que momento você deixou de existir.

Se foi enquanto eu tomava banho, ou naquele dia em que me deliciei com o frapuccino de uma famosa casa de cafés, se foi enquanto eu esperava o trem para fazer compras naquela loja de grife, se foi no verão, no outono ou no inverno ou enquanto fazia amor com alguém que não era você, obviamente. E não encontro respostas.
O fim do labirinto, o nó desfeito, o "gran finale" da novela, o CD que de tanto tocar, arranhou. Ou quem sabe, simplesmente, o fim.

Enfim. E por mais que eu tente lembrar de você para fazer aquela poesia dolorida, não consigo, parece um parto de fórceps.

Antes era dor, mas era belo. Os poetas fazem bela a dor. Ela é literária.
Ou será que você sempre foi o nada, o vazio, o zero, mas eu, debilmente, tentava preencher o vácuo com sentimentos?

Me frustra saber que eu não terei uma grande história inacabada, um amor mal resolvido, o drama Shakeasperiano, um fantasma me assombrando.

E eu, tento, ainda refém de algum romantismo barato, encontrar algum significado em você, mas não consigo.

Tudo o que restou foram espasmos de lembrança, essa saudade morta e minha cabeça cheia de invenções com nossa história.