quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Nem tudo na vida são followers


Sempre quis começar um conto sobre um esquartejador galã com a seguinte frase: um pedaço de mau caminho…


Nunca passei disso. Sinto que meus textos estão se contraindo e a minha preguiça se alongando.


Minha vida se divide em antes e depois do Twitter. O que, realmente, não deve significar muito. As ideias, que já não eram grande coisa, estão ficando cada vez menores.

Estamos avançando freneticamente, conforme Saramago, ao grunhido. De se comportar como bichos, aliás, entendemos como ninguém. Essa é a diferença básica sobre eles: animais não tentam se parecer como homens.


O advento de uma rede como o Twitter é que ele diminuiu as distâncias, mas aumentou significativamente as intrigas. Tudo é pessoal demais. Há uma intolerância a respeito das opiniões. Todo mundo quer tweetar, criar polêmicas e arrebatar fãs. Esquecem que essa merda é democrática e cheia de recursos interessantes.


@Zé: Vou te dar um follow!


@João: @Zé: É unfollow. E já aproveita e vai pra p*#$% que te pariu..


O botão “unfollow” funciona sem precisar dar aviso. Mas nem todo mundo entende o espírito do negócio.


Outra coisa que precisamos discorrer é sobre relacionamentos. Hoje em dia, dói mais não ser retuitado do que acabar com um namoro. Se faz DR por DM e a resposta ao “Eu te amo” ganhou um mero RT na frente. Além dos pés na bunda, que nunca foram tão temáticos.


“Gilberto, não vou retwittar algo que não sinto mais”.


“Valdirene, ainda gosto de você. Mas cansei dos seus tweets”.


“Paulo, você merece alguém que te dê carinho. E acima de tudo, #followfridays”.


“Clarice, na vida nem tudo são followers”.




As pessoas estão cada vez mais dependentes desta interação. Virou o refúgio dos carentes. O esconderijo dos calhordas. E, talvez, a catapulta dos anônimos.




@Lindão_do_Orkut28: Porra, tu é mesmo gênio. Mas… vc é fake?


@Selebridade: Não. Meu personagem é que é.


       A avalanche de adesões neste meio é imensurável. Tirando um ciclone ou outro, poucas coisas conseguiram movimentar tantos em tão pouco tempo. Estão todos lá. E assim como com os fenômenos naturais, procuram abrigo em meio a uma tempestade de informações.


       Por que as pessoas protegem seus tweets no Twitter? Isso é como aceitar entrar numa suruba, mas só se for usando cinto de castidade.





@Maurília: @Robertinha miga, já travei as fotos, protegi os recados e restringi os acessos. E agora?


@Robertinha: @Maurília Pronto. Você acaba de entrar numa rede social.


      Os twitteiros são lunáticos. Só uma palavra assim para definir o desespero por followers, a atenção por seus tweets ou seguir o Théo Becker.




     Esperar por coerência ou por manutenção de humores é outra coisa de que é melhor desistir. No fundo, no fundo, todos querem aparecer. Nem que não tenham nada o que mostrar.


@Sabio_da_montanha: Consegui criar o tweet perfeito.


@Aprendiz_da_montanha: Para quê?


@Sabio_da_montanha: É, essa parte eu não tinha pensado. Talvez virar pauta da Folha, sei lá. Estão nos seguindo, não estão?


@Aprendiz_da_montanha: Não, deram unfollow semana passada.

@Sabio_da_montanha: Alguém do Terra?


@Aprendiz_da_montanha: Saíram também.


@Sabio_da_montanha: Veja?


@Aprendiz_da_montanha: Abandonaram.


@Sabio_da_montanha: EGO?


@Aprendiz_da_montanha: Nem sinal.


@Sabio_da_montanha: Vão tudo tomar no c*, então!


(…)


@Aprendiz_da_montanha: Caralho, chefe. Não sei se esse era o tweet perfeito, mas ganhamos 50 followers com essa.


Por um punhado de followers. É só isso o que perseguimos.

(Por @tiodino)