segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Comigo não precisa ser à meia luz (um texto que é uma declaração de amor)

Você saiu da banheira num pulo e, de maneira acrobática, aplicou um giro rápido de 180º e se dirigiu ao banheiro fazendo uma espécie de moonwalk para que eu não conseguisse olhar diretamente à sua bunda. Em um piscar de olhos, conseguiu escondê-la sob um desnecessário roupão. 

Sim, eu sei que mesmo depois de alguns bons meses juntos - e fodas caprichadas, e garrafas de vinho extintas, e nossos suores pra lá de misturados... - você ainda tem vergonha de mim e, infelizmente, não consegue livrar-se do medo que tem de expor suas características humanas aos meus olhinhos - não menos humanos. 

Pois saiba que, muitas vezes, priva-me de seus melhores ângulos, agindo como se eu fosse um crítico ranzinza daqueles programas culinários que infestaram a TV; como se eu estivesse esperando apenas uma oportunidade para humilhá-la. 

Só que não... Quero que saiba, de uma vez por todas, que não deixarei de amá-la nem um pouquinho nas tantas vezes em que ainda irá tropeçar e cair, como qualquer pessoa faz. Pelo contrário: vou sempre levantá-la pelos pulsos e, quando isso não for possível, vou jogar-me no chão junto com você para rirmos das merdas da vida, do quanto as coisas simplesmente desandam às vezes, feito maionese caseira rebelde. 

Porque gosto mesmo quando você foge do script e não percebe que está com a pontinha do nariz suja de sorvete. Adoro quando nos teletransportamos da balada direto à cama e quando, sobre seu colchão pequeno, a deixo sem forças até para tirar a maquiagem. Pois no dia seguinte você fica linda parecendo um panda de ressaca. 

Quero que saiba já - e não daqui a pouco! - o quanto eu a acho bonita mesmo quando faz careta, mesmo quando se acha horrível. 

Não tem ideia de como eu ficaria feliz se você, ao menos uma vez, relaxasse e soltasse a barriga enquanto comemos Doritos sentados e pelados sobre o tapete da sala. 

Eu não tenho nada contra suas dobrinhas e espero também que não tema minha barriga cultivada à base de cerveja, bordas recheadas amanhecidas e ausências na academia. 

É claro que acho você uma gostosa dentro calcinha de renda preta, mas preciso realmente que saiba o quanto adoro ver você recheando aquela camiseta velha da sua formatura do terceiro colegial ou montada naquelas Havaianas que considera impróprias a certos ambientes. 

Adoraria que você se esquecesse de me pedir para apagar a luz e me permitisse devorar com os olhos cada cantinho seu – porque, afinal, se estou com você agora, significa que é com você que quero estar e que a desejo do jeitinho que é, maravilhosa como insiste em não se enxergar. 

É óbvio que aquele saltão me dá uma puta vontade de morder suas panturrilhas, mas peço que use mais vezes aquela sapatilha vermelha super confortável, e sabe por quê? Pois tenho tesão também pelo seu bem-estar e por saber que em minha frente - e sobre mim, e ao meu lado, e comigo... -, sente-se realmente livre para ser humana - a pessoa pela qual me encantei. 

Não estou pedindo para fazer cocô de mãos dadas comigo. Nada disso! Peço, apenas, para despir-se de verdade: remova não apenas as roupas, mas também essa desnecessária vontade de parecer perfeita. Eu sei que não é, e, mesmo assim, continuo louco por você. 

(Ricardo Coiro)