quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O amor é um sopro diário...

O amor está bem mais para feijão com arroz feito no capricho do que para o complexo prato de bistrô que comemos somente em datas comemorativas, cujo nome nós não conseguimos nem pronunciar.

O amor, apesar de exigir de nós constantes contorcionismos, tem muito mais a ver com um papai-e-mamãe cheio de entrega do que com elaboradas posições do Kama Sutra realizadas apenas a pedido do ego que, vez ou outra, coloca em xeque o nosso próprio desempenho.

Engana-se, redondamente, porque amor é, principalmente, a carícia verdadeira que acontece numa terça-feira comum; é o beijo na testa que antecede uma segunda-feira cheia de e-mails na caixa de entrada. 

O amor, apesar de ser comumente representado por buquês imensos de rosas colombianas e por declarações de parar quarteirões, a meu ver, está muito mais para um “Eu adoro a cara que você faz quando acorda!” dito espontaneamente num domingo de manhã. Ou para um cafuné que continua a acontecer, a todo vapor, mesmo depois que os dedos começam a doer e o sono ameaça nos desligar.

Amar é aprender a dizer “Tá” em vez de “VÁ SE FERRAR!”; é arranjar forças para fazer silêncio quando houver vontade de berrar as tripas.

Amar é deixar uma blusa extra no carro por saber que ela vive a sair de casa sem consultar o Climatempo; é reservar apenas hotéis que têm secador de cabelo para evitar que ela caia no mundão de madeixas molhadas.

Amar é entender que em uma relação normal há muito mais calcinhas beges e confortáveis do que fios dentais de oncinha.

Porque amar é aliviar a pressão, não aumenta-la. 

Amar não é preparar duas surpresas mirabolantes por ano e passar 363 dias sem tocá-la direto na alma. 

E por aí vai... O amor, em minha opinião, está mais para pijamas velhos, pernas entrelaçadas sob o edredom e maratonas de séries na TV do que para as poses repetidas e os beijos milimetricamente arquitetados que vemos em festas de casamento.

O amor é dia a dia, é manter os corações lado a lado faça chuva ou faça tempestade de sapos à la Magnólia; não é só aquilo que é retratado – e postado - em dia de solão, céu azul e feriado. 

O amor é um sopro diário que não deixa a chama apagar, não fogos de artifício lançados sazonalmente para tentar reacender uma fogueira que já não aquece mais.

(Ricardo Coiro)