terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Eu gosto assim...


Eu lhe prometo ser fiel na alegria, na tristeza e em todas as rodadas do Brasileirão mesmo que seu time 6 vezes campeão nacional seja hipoteticamente rebaixado para o grupo B - mas aviso logo: vai ser difícil segurar as piadinhas e eu sei que no meu lugar você faria o mesmo, então não fique rebelde caso um dia isso venha a acontecer. (...)


Ah, sim, falando em prometer... eu ia dizer que sim, de bom grado, eu prometo segurar suas mãos naquelas noites em que o mundo inteiro vira chuva e desaba sobre o telhado porque sei que você tem medo de trovões, e deixar você dormir do lado direito da cama, e dividir com você as minhas batatinhas fritas e a pipoca do cinema - mesmo que você teime em comprar entradas para um desses fimes toscos em que voam socos, pontapés, e gente morta ou estropiada por todos os lados, fazer o quê. Eu prometo te emprestar o meu shampoo e (eventualmente) não deixar calcinha no box. Eu prometo estar com você quando Maomé não for à montanha, mas a montanha for à Maomé, ou quando Judas finalmente encontrar as botas que perdeu, ou quando o mar virar sertão, o sertão virar mar e o camêlo passar pelo buraco da agulha e, sobretudo, eu prometo ficar ao seu lado e sorrir o seu sorriso preferido quando a vida parecer ter se transformado em uma grande piada de mau gosto e as coisas podem até pecar no quesito leveza, mas estaremos juntos e descobriremos juntos que o diabo não é tão feio quanto parece.


E não lhe ofereço nem aliança nem nada de tão específico como prova do meu amor e da minha fidelidade porque você sabe, eu fico tiririca com esse negócio de ter que provar amor. E como mentiras me dá urticárias, ui não posso nem pensar, deixo claro que vou continuar reclamando da toalha molhada sobre a cama e da tampa levantada do vaso sanitário, e também da louça acumulada na pia nos dias em que a diarista não vem, e dos copos que você larga em qualquer lugar, custa passar uma água? E sem dúvida eu vou continuar reclamando ( e muito) da cara esfomeadamente terrorista que você faz quando olha pros peitos da filha do aposentado do 612, aquela que usa uns vestidos tão curtos que deixam ver até a consciência, se é que ela existe - pensou que eu não tinha percebido, hein, mas sobre a mocréia a gente conversa baixinho depois.


E certamente vou continuar me fazendo de surda quando você insistir que eu pare de falar com aquele ex-namorado lindo, charmoso, inteligente e bem-sucedido no ramo de empreendimentos imobiliários, mas quer saber? Nada disso faz a menor diferença. Talvez eu nem tenha tido escolha, o meu coração leva muito a sério essa coisa de livre arbítrio e não me deixou dar muito palpite quando escolheu amar você pela vida inteira. E eu, que às vezes acho que ele não poderia ter sido mais irresponsável, quando olho para o lado e vejo você dormindo, tranquilo, com a cara feliz de quem está sonhando não com os anjos mas com um séquito de coelhinhas da Playboy, tenho certeza de que ele acertou. Porque você está longe de ser um príncipe encantado (nem tão longe). Mas só você é você, e eu gosto assim.


(Flávia Brito)