sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Em fim...

Cospes palavras que talvez nem quisesses dizer.
Mas cospes com vontade, assim, bem na minha cara.
Xingas, me humilhas, maldizes o amor, a mim e desdizes todas as juras e tudo o que antes parecia bom.
Mesmo assim eu te agradeço. Pois pelo teu cuspe assim espalhado por todos os meus poros, tive coragem de assumir discordar de ti e mesmo assim te dar razão.
Não maldigo nossa história, mas nós dois seremos menos um.
Obrigada pelas malas tantas vezes feitas, desfeitas, refeitas, pela confusão que tuas roupas causaram em meu chão, minha cama, meu armário, em mim.
Pela bagunça das tuas coisas que nunca se decidiam se ficavam ou não e agora que se foram, não poderiam estar melhores.
Assim as minhas respiram.
Lembrei o quanto era bom te ter daquele jeito, tão dentro das minhas paredes, e do quanto é melhor ainda ter-te tão longe de minhas portas, pois assim fico mais perto de mim.
Teto, piso, janelas, frestas se enchem de mim mesma, coisa que já havia sido enterrada no jardim.
E mesmo tu tendo descascado as paredes, quebrado copos, pratos, lâmpadas, desfeito o lar que eu entreguei a ti, as portas vão estar sempre abertas, porque eu sempre fui boa anfitriã e tu me havias feito esquecer até disso.
E já ia esquecendo também de agradecer-te pela dor.
Porque ela me fez perceber o quanto sou forte.
Pelo teu desprezo, que me fez descobrir o quão gigante sou perto de ti.
Obrigada por me lembrar que existem outros tão ou mais interessantes que tu e que eu já nem mais enxergava.
E pude até notar assim em mim e também ser notada, que sou tão ou mais interessante que tu. Eu que nem era mais eu, agora sou tão mais vida, mais sorriso, mais liberdade, mais leveza.
Que tu me eras metade e quando te arrancaste de mim, pensava que levarias uma parte essencial minha, mas quase não causaste estrago.
O pedaço que deixaste me foi suficiente, bem mais saboroso.
Tu levaste as mentiras, as traições, os gritos, as loucuras, a perda de tempo e me deixaste o prazer, a verdade, a doçura, a lealdade.
Não me deixaste sequer arrependimento, pois da minha parte estava tudo em seu lugar.
E não te enganes que serei como tu, a me vingar por aí pelo pouco que me deixaste.
Porque só me fizeste crescer com tuas estupidezes, e só me deixaste na boca a vontade de morder mais uma vez a maçã, sem nem saber ser escolhi a certa.
E começar tudo de novo, talvez até com mais entrega, agora que me deixaste a certeza de que eu é que era a melhor metade.
Nem vou sair em busca da outra, ela há de me encontrar por aí.
Se não for pedir muito, quero que guardes nossas fotos, pra te lembrar o quanto ainda vais demorar a ser tão feliz de novo, cuida do nosso cachorro, pra ter alguém a quem olhar e nem me devolvas aqueles cd’s, aprendi músicas novas e já sei tocar aquela gaita.
Espero um dia te dar um abraço desses que sufocam e te agradecer pelos bons momentos e principalmente pelos maus.
Mas peço que não te arrependas jamais, que se não tivéssemos dividido eu não teria somado tanto.
E também, se não tivesses me subtraído, não iríamos mesmo ter multiplicado.
‘Vamos ser infelizes para sempre, até que a sorte nos separe’.
E pela primeira vez eu tive sorte no jogo.
(Autor desconhecido)