sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Uma história mal contada de um não amor...


Nunca conseguiria entender o que me prendeu a você!

Pude contar nos dedos os momentos em que sorrimos juntos e as raras vezes de senso comum. Sem promessas, sem juras ao cair da tarde, sem a cumplicidade dos encontros de verdades.

Meu olhar perdido no seu e o seu perdido na vida fora daquele quarto.

Não encontrava respostas todas as vezes que me perguntava porque não consegui deixar algum rastro de admiração e porque logo em mim o avesso do encantamento.

Enquanto os turistas passavam apressados e os lap tops se amontoavam sobre as mesinhas cheias de capuccino, eu tentava me concentrar no seu olhar e salvar a memória daquele instante para empurrar a sensação triste de um longo abraço onde a maldita intuição gritava aos meus ouvidos que seria o último. O último!

Voltar pra casa com seu cheiro nas minhas roupas, a sua voz me fazendo tremer os pensamentos, suas manias diferentes das manias de qualquer outra pessoa com quem pude cruzar.

Essas coisas que nutrem os dias de quem se acovarda diante da verdade dura!

Tantas vezes eu desejei colocar a cabeça no mesmo travesseiro onde secaram as minhas lágrimas e não demorar para dormir, nem ter mais um daqueles pesadelos povoados com as minhas loucuras do "sentimento sem sentido". Eu ergui o meu mundo em torno de você até enlouquecer.

O amigo, o médico, a terapia, o remédio, as culpas, a dor, as farpas, o pânico, o caos, até o limite.

Quem entende um sentimento não correspondido sem que o viva ?

Quem ousa contar o quanto se pode e até onde se pode sofrer por alguém?

Até onde guardar o luto por quem continua vivo, mas de alguma maneira morto?

Lembro que escrevi sobre a certeza de existir um lugar colorido depois de sofrer por você.

E que surpresa: "não é que existe mesmo?".

A realidade de agora é saborosamente estranha.

Meu Deus.....eu não estou delirando e você não está mais aqui dentro.

Queimei todas as perguntas. As noites que sempre pareciam longas me trouxeram de volta as boas horas de sono; os dias que se arrastavam voltaram a seguir o ritmo do trabalho, da presença alegre dos amigos, de ver o sol por fora da minha janela, de festas que eu já não freqüentava, das chances que eu não me permitia, os novos encontros, os reencontros inesperados ou recusados presos a sua sombra, as viagens pra fora de uma alma vazia da sua presença e completamente livre da angustia.

Viramos crianças quando deixamos de sofrer, porque experimentamos a vida como se tudo nela fosse novo, aliás, tudo muda depois das privações, provações e provocações as quais as circunstâncias que não ter o que se que quer ( ou pensa que se quer ) sentencia, e posso olhar as pessoas finalmente com a capacidade de observar o que ficava invisível através da sua lembrança.

Foi preciso deixar você se perder de mim para encontrar o equilíbrio incapaz de existir enquanto me fiz refém de elementos frutos das minhas ilusões...

Quem disse que "esquecer é uma das tarefas mais difíceis a que se submete o ser humano" tinha razão. Mas a paz; as belezas que posso vislumbrar diante do novo caminho, me fazem entender que existe um sentido para todas as forças, inclusive as estranhas que me arrastaram em direção ao nada.

O destino que me fez encontrar você, não pôde gerar os frutos que um dia julguei essenciais, mas foi sem dúvida um passo importante pra que eu descobrisse o mapa que tem me guiado até um pedaço de paraíso que me complete.


(Fabiana Borges)