terça-feira, 16 de setembro de 2008

Eu quero um final Clichê


Nos afastamos em silêncio. Nenhum dos dois disse uma palavra.

Eu, porque qualquer palavra que viesse à mente, mal passaria pela garganta num choro engolido. Você, porque nem sabe que precisa realmente falar alguma coisa.

Nos afastamos em silêncio.
Foi uma pena para mim que não aprendi a dizer chega.

Foi grande sorte para você, eu ter aprendido a ser tolerante em grau máximo.

Só de pensar em dizer que eu te amo, meus olhos se enchem de lágrimas, como agora.

Nunca te disse. Talvez naquela tarde, bem rápido, não sei se você ouviu.
Queria tanto que mágoa tivesse prazo de validade.

Queria poder jogá-la no lixo reciclável e transformá-la num bibelô qualquer, num objeto não-cortante (porque ainda me corta), num urso de pelúcia.

Mas a mágoa fica no coração, e este, eu não posso descartar.

Além da dor, ele carrega sentimentos aquém da sua própria imaginação.
Já quis te ver atrás das grades, nos meus surtos adolescentes.

Ela não deixou. Sim, ela, a quem eu devo simplesmente tudo. Eu não queria prender você, na verdade.

Eu queria prender todos os sentimentos que me fizeram arder em choro.

Ou os que prenderam minhas lágrimas, estes, os piores.
No meu corpo, a roupa mais bonita era sempre para passear com você.

No céu, o sol brilhava garantindo um dia perfeito.

No relógio, as horas passavam indicando que você não viria. Mais uma vez.
E ali estava eu, sentada em frente à janela, de maria chiquinha no cabelo e com a roupa mais bonita, aquela de sair com você.

No cenário, a minha casinha de almofadas. Destruída. Assim como eu.
Aquele dia eu não escrevi. Seria mais uma página em branco a se juntar com as outras.

Aquele dia eu não escrevi. Você jamais leria.
Engraçado como tenho aversão por finais. Finais de filmes, novelas, fatos reais.

Não gosto de assistir a finais. Se não são meus olhos que cerram, são meus pensamentos que devaneiam.

Deixe-me entrar. Não quero ser apenas uma figurante da sua história.

Quem sabe assim, eu consiga escrever um final. Feliz.


(Miréille Almeida)